RICARDO FERREIRA: “AGORA SOU UM FERVOROSO E ATENTO ADEPTO”

RICARDO FERREIRA: “AGORA SOU UM FERVOROSO E ATENTO ADEPTO”

1 Agosto, 2023

Foi nos últimos dias do mês de junho que Ricardo Ferreira, mais conhecido no mundo do Futebol de Praia por Ricardo “Loja”, anunciou o fim da sua carreira. Um termo que também engloba a prática de Futsal. Dois desportos que o português praticou em cerca de três décadas.

Em exclusivo ao Futebol de Praia Portugal o internacional português contou-nos um pouco mais da sua carreira com o foco na “nossa modalidade”.

Futebol de Praia Portugal: Como é que chegaste ao Futebol de Praia estando no Futsal?

Ricardo Ferreira: Iniciei através de torneios de Verão, nomeadamente na praia da Foz do Arelho (Caldas da Rainha). Um árbitro internacional da região (João Almeida) que me acompanhou nesses torneios e sugeriu ao Selecionador da altura (Guga) que me fosse ver jogar e assim foi. Ele foi ver-me e ficou de me convocar no início dos treinos para o torneio seguinte. Em meados de outubro voltaram a contactar-me para iniciar os treinos com a Seleção, sob o comando do Zé Miguel, desde aí foi uma entrada mais séria na modalidade.

FPP: Qual o teu percurso no Futebol de Praia em termos de clubes?

RF: Em termos de clubes representei primeiramente o Vitória FC, depois realizei um torneio onde representei o SL Benfica, passei pela ACD O Sótão e terminei onde tudo começou, na Casa do Benfica de Caldas da Rainha.

FPP: Qual o clube que mais te marcou? E porquê?

RF: Tenho de referenciar dois por razões distintas. O Vitória FC pelas conquistas que tivemos e a ACD O Sótão por toda a mística que o envolve nesta modalidade.

FPP: Ao longo da tua carreira quais os momentos que mais te marcaram no Futebol de Praia?

RF: O primeiro foi a 1ª internacionalização. Ouvir pela primeira vez a portuguesa vestindo a camisola da Seleção é algo indiscritível. Depois a primeira vez que participei no Campeonato do Mundo. Estar num Campeonato do Mundo, da modalidade, com o pouco tempo de “areia” que tinha, também foi marcante para mim. O facto de ter sido Campeão Nacional pelo Vitória FC, em 2007, tendo sido eleito o melhor jogador do campeonato, havendo equipas com nomes e com muito mais estatuto foi muito especial. O momento que mais me marcou foi a conquista do Campeonato da Europa, em Marselha, no ano de 2007. Uma nova sensação indiscritível na altura de levantarmos a taça.

 

 

FPP: Que sentiste ao ser chamado à Seleção Nacional pela primeira vez?

RF: Senti um orgulho enorme! Primeiramente por ter a oportunidade de representar o meu país, fazendo aquilo que mais gostas. Depois porque é um confirmar da competência que tens e poder concretizá-la. Poder partilhar a areia com nomes incontornáveis, da modalidade, a nível mundial e treinar com os melhores do mundo, e de sempre, é único. Foi de facto difícil de descrever pelas melhores razões.

FPP: Mudavas alguma coisa, na tua vida desportiva, para apostar mais no Futebol de Praia?

RF: Essa questão é difícil! Se pudesse apostar mais no Futebol de Praia, sabendo que não mudaria nada na minha vida familiar, no sentido de acabar como está, então sim, sem dúvida. Julgo que poderia ter adiado um pouco o ingresso no mercado de trabalho, apostando um pouco mais na modalidade e no que seria o seu e o meu futuro.

FPP: Desde então o Futebol de Praia mudou muito. Como vês essa evolução?

RF: Julgo que desde que deixei de representar a Seleção, a ingressão nos quadros da FPF permitiu que evoluísse durante um bom período, no entanto, acho que estamos num período de estagnação, quer em termos qualitativos quer quantitativos. O desaparecimento de algumas equipas importantes no panorama nacional foi prejudicial para o nosso campeonato, no sentido de termos perdido a presença de jogadores reconhecidos mundialmente. Não que não tenhamos soluções mas, o facto de o Futebol de Praia em Portugal ter começo pelo telhado, faltando clubes, campeonatos e formação na sua origem.

FPP: Onde te sentiste melhor? A jogar nas quadras ou nos areais?

RF: Por estranho que pareça, não consigo dizer onde me sinto melhor. Em ambos me sinto extasiante quando jogo, cada modalidade com as suas caraterísticas especiais deixa-me repleto de boas sensações quando jogo.

FPP: Como jogador quais as diferenças que encontraste a disputar as duas modalidades?

RF: Sem dúvida que o facto de na areia o piso ser irregular e teres de te adaptar ao jogo a partir daí. O jogar mais com a bola no ar, o facto de promover mais a força e a resistência quando jogas, o facto de permitir mais finalizações, e mais espetaculares, são sempre maneiras que te permitem melhorar e adaptar no Futsal.

FPP: Ao longo destes anos como foi conciliar as duas modalidades?

RF: Sempre difícil porque não conseguia o descanso necessário para iniciar cada uma das épocas nas diferentes modalidades. Iniciava o Futebol  de Praia ainda durante a época de Futsal, começando a época de Futsal quase sem pré-época por estar ainda a disputar campeonatos no Futebol de Praia. Tecnicamente nunca senti dificuldade em conciliar as duas modalidades, apesar de todas as diferenças que lhes são caraterísticas e conhecidas.

FPP: Pensas ficar ligado, com algum cargo, ao Futsal ou ao Futebol de Praia?

RF: Não! A minha decisão de terminar a carreira foi principalmente por questões familiares. Não sei se alguma vez voltarei a algumas das modalidades, como praticante ou noutro cargo, mas para já a ideia é definitiva. Agora sou um fervoroso e atento adepto das duas e a ideia é assim permanecer.

 

Natural das Caldas da Rainha, Ricardo “Loja” foi internacional português durante sete épocas. Começou a sua carreira, com as cores portuguesas, em 2003 na VI Copa Latina (disputada no Brasil). A última vez que vestiu a camisola das Quinas foi no Mundialito de 2010, em Portimão.

No ano de 2007 sagrou-se Campeão Nacional com a camisola do Vitória FC. Equipa orientada por Mário Narciso, atual Selecionador Nacional.